Acabou a época.

(1) Como visão geral posso considerá-la como muito boa. Admito até, sem qualquer prejuízo de dedicação ao voleibol, que em Dezembro vi o caso complicado. No início a constituição da equipa pareceu-me bem preparada, onde se percebia um plantel mais equilibrado e com opção de banco. A verdade é que a época arranca com a Aline, Bárbara, Amanda e Ana Figueiras na seleção e a chegar tarde à pré-época. Como bónus as duas primeiras jogadoras referidas chegaram lesionadas, estando condicionadas por largo período. Recordo que fomos ao torneio das Vindimas levantar fantasmas sobre o futuro da época.

(2) Ao mesmo tempo que já se percebia lacunas na zona 4 do voleibol feminino, a equipa masculina era reforçada com mais 2 elementos extra para ajudar aos treinos. Richardson Silva e Roberval Júnior foram parvoíces de gestão desportiva. Acabaram, ambos, por sair para o Clube K. Esta ação em concreto tenho a certeza que condicionou um possível reforço para a equipa feminina atacar o título. Por considerar relevante, coloco nesta análise. 

(3) Acabámos a primeira fase do campeonato em 3º lugar, com o mesmo nº de vitória do 6º classificado. As desconfianças de um campeonato super competitivo foram confirmadas e a 2ª fase antecipava-se complicado. 

 (4) A 2ª fase começou e transpirámos muito para conseguir chegar ao 3º lugar e qualificação para as meias-finais do campeonato. Esta transpiração é traduzida em 6 (!) jogos a serem disputados na negra. Entre 22.01.2023 e 11.02.2023 fizemos 5 jogos seguidos a 3-2, vencendo 4 deles. Eu não acho que o voleibol seja um jogo de sorte, mas é um jogo muito emocional, especialmente com cansaço e 4 sets em cima. Quero com isto dizer que, se tivéssemos menos bem a nível técnico/tático/emocional nestes jogos o desfecho da época seria bem diferente. O limiar de sucesso era estreito. 

(5) O fim de semana de 10 e 11 de Maio trouxe boas recordações. 435 anos depois da última conquista da taça, conquistámos o caneco num novo jogo a 3-2 a acabar depois da meia-noite. Sim, porque começar um jogo às 21h não é elevar o desporto feminino. Aqui ainda há caminho e parte de todos denunciar estas situações. A nível pessoal foi um dos momentos mais altos como adepto de voleibol feminino do Sporting CP. Por estranho que possa parecer, o outro grande momento foi a subida de divisão da 2ª para a 1ª porque marcou o encerramento de um ciclo importante de atletas e nível de profissionalismo.

(6) As finais do campeonato trouxeram uma disputa intensa com o Leixões SC onde mostrava a força leonina. Vencer no jogo 5, fora, contra um pavilhão cheio, depois de perder o 1º set, depois de chegadas ao jogo escoltadas pela polícia Robocop em clima de (quase) guerra… Bem, isto é à Sporting CP caralh*! Depois fomos jogar as finais com uma AJM/FC Porto forte e preparada. Não estivemos ao nosso nível e isso manchou a euforia final de época. Por momento, parecia que estávamos a jogar com o Real Madrid e não com a equipa que nos 4 confrontos jogados esta época tínhamos vendido 3. A AJM/FC Porto teve mérito na mesma proporção do nosso demérito. Não acredito no princípio de Peter aqui, pareceu-me, sim, que houve atletas já não lhes apeteceu. 

(7) Pelo meio disto tudo ainda enchemos o PJR duas vezes, colando os jogos com horário próximo do futebol. Apesar da zero competência por parte da equipa de comunicação do Sporting CP como ferramenta de apoio à equipa, a verdade é que a alma leonina prevalece. Recordo o belo número de 2.2M de audiência para o período de 4.03.2023 e 03.04.2023 do hashtag #VoleibolFemSCP no Twitter. Em jeito de banho de realidade, o jornal do Sporting CP falou reduzidamente do último jogo das finais (escreveu mais sobre o masculino) e nem colocou uma foto do jogo, foi ao arquivo. Apesar de individualmente a equipa não tenha influência para as marcas, enquanto coletivo há um potencial estrondoso por explorar. 

(8) Deixo, também, a minha opinião individualizada, de duas ou três linhas, sobre a equipa:

Greta Martinelli e Ana Figueiras: Fui falando várias vezes da nossa pouca competência no passe. Conseguimos chegar tão longe precisamente por termos 2 jogadores médias. A verdade é que nenhuma estava ao nível da Ana Couto ou Ju Carrijo, ambas fizeram toda a época em alto nível. Tecnicamente a Greta era melhor, mas perdia na parte física. Taticamente ambas sempre com lacunas. A espaços foram estando num nível aceitável o que permitiu esta longevidade da época.

Carolina Garcez: A doença da Daniela obrigou-a a assumir muitos jogos. Esteve num registo que não comprometia a equipa, tendo, a espaços, um papel importante de equilíbrio. É uma jogadora de equipa e esse papel assenta-lhe bem.

Daniela Loureiro: Tornando-me repetitivo, penso que terá feito a sua melhor época de sempre. A sua ausência não beliscou, em nada, as suas performances enquanto melhor jogadora da equipa. Sempre inconformada nas derrotas, sempre defensora dos nossos interesses dentro de campo, sempre motivada por um desejo ardente de vitória. Esta atitude incomoda os “donos do voleibol”. Temos pena!

Amanda Cavalcanti: Publicou ontem o seu post de despedida da época. Essa publicação obrigou-me a um desabafo com um amigo a dizer: “esta miúda é especial. É novinha, inteligente e com imensa maturidade. Ela é especial”. Num entendimento brilhante do que é o Sporting CP, só falou dos adeptos. Sobre a sua época a palavra que escolho é crescimento. Com a lesão da Aline, caiu sobre ela a responsabilidade do centro de rede depois de um verão sempre intenso e a jogar. Esteve muito bem! Perdeu espaço com a performance das companheiras, mas tenho dificuldade em não a ver a titular em momentos decisivos na próxima época. Para mim, já é a melhor blocadora da equipa. Ser inteligente ajuda-a muito.

Aline Timm: Teve de elevar o seu jogo para tirar o lugar à Amanda a partir de janeiro. A verdade é que fez uma época muito interessante. Penso que terá sido a sua melhor época enquanto blocadora, que é o seu ponto mais fraco. Ganhou o jogo na Luz com os seus serviços. Nota-se a entrega à equipa e a preocupação constante em agregar as companheiras. Boa época da Aline.

Jady Gerotto: Começou melhor a época do que acabou. Continua a dar constantes passos de evolução e ainda não ficou por aqui. A sua técnica foi aprimorada e está a servir muito bem. A sua força é uma arma que sabe usar bem e, com isso, criar dificuldades imensas aos adversários. Como não teve distribuição para o seu potencial, foi caindo de produtividade. Notou-se melhorias na bola de primeiro tempo junto à passadora, mas a bola tem de estar melhor para continuar a evoluir. A época foi muito boa e é daquelas jogadoras que se gosta de ver festejar. Que alma! 

Fernanda Rodriguez: Esteve de férias até janeiro/fevereiro. Depois acordou quando o treinador colocou a Maria Maio na saída de rede. Acabou bem a época e isso ajudou muito ao sucesso na taça de Portugal e os jogos com o Leixões SC. Esperava muito mais da internacional mexicana, mas pode não ter-se adaptado. É pena porque aquela diagonal curta e a forma como usa as mãos das adversárias é fantástica.

Vanessa Paquete: A Vanessa foi a salvação da época. Objetivamente, sem a performance desta jogadora a aguentar a equipa no ataque até fevereiro tínhamos caído com estrondo. Acabou a época em baixo, mas sem apoio na distribuição é complicado. Nenhum das distribuidoras percebeu, durante um ano inteiro, qual a harmonia necessária para a Paquete ser eficaz. Houve jogos (até nas finais) que a primeira bola para ela apareceu já com 10/15 pontos disputados no jogo, quando a Paquete precisa de entrar no jogo cedo. Alma, garra, fervor, leoa, explosiva, dura são tudo adjetivos que lhe assentam bem. Belíssima época. Ah! E tem a melhor claque.

Bárbara Gomes: Outra jogadora que apareceu tarde na época e abandonou ainda antes da época ter terminado. Esperava muito da Bárbara que se foi vendo a espaços. O potencial está lá todo, quando (se) tiver a consistência fica imparável.

Daniana Pereira, Célia Gaston, Maria Maio: A Daniana e a Maria Maio são voleibol e são equipa. Sempre disponíveis para o que for preciso, até para apoiar do banco. A Maria é a voz e a Daniana a raiva leonina. Todas as equipas precisas de Marias e Danianas porque respeitam o jogo, a equipa e o clube.

Thaís Bruzza: Escolho-a como a melhor jogadora do ano. Classe e qualidade ao serviço do Sporting Clube de Portugal. Com as mudanças táticas deste ano, através por exemplo da aceleração da bola na ponta, tornou-se mais pontuadora. O erro é algo que a incomoda e isso é um elogio máximo a todos aqueles que fazem do trabalho o espírito contrário ao erro. É um pêndulo de qualidade no serviço, na defesa e na receção em especial. Adoro a Bruzza. 

Rafaella Bonifácio: Ainda bem que veio senão estávamos feitos no princípio da época. Com a consistência que a Bárbara colocou de janeiro a março ficou sem espaço na equipa titular. Apesar de algumas limitações de recepção, isso nunca foi um entrave para ajudar a equipa. Com o seu braço poderoso e o serviço exemplar, foi um dos destaques da época. 

(9) Como devia acontecer com todos os intervenientes do voleibol feminino do Sporting há um nome que devia ser escrito em todos os posts de final de época: Rui Costa. O nosso treinador é o master mind por detrás de um projeto que começou dos cimentos dos pavilhões de Lisboa para um pavilhão de Viana cheio a festejar uma vitória 37 anos depois. Anualmente muda a equipa taticamente. Este ano apareceu com uma linha recepção um pouco diferente, mais ao jeito do Kiraly. No ataque tivemos mais alternativas de bola onde as pontas de zona 4 e as centrais foram as que mais beneficiaram. Relembro que, ainda há 2 anos, a P1 era o nosso desassossego e deixou de ser. A sua capacidade técnica foi possível de perceber melhor com duas distribuidoras e tantos jogos vencemos à conta dessas leituras. Defende o voleibol, defende a sua equipa e vira-se para os adeptos como fonte de motivação e responsabilidade. O desporto é dos seus protagonistas, a cara Sporting CP são as suas gentes por isso ainda há ídolos. Aqui está um.

(10) Quem aguentou a leitura até ao fim perceberá que um texto longo destes precisa de uma conclusão. A minha conclusão da época é que não estive à altura da exigência que coloquei nestes anos todos neste bonito serviço. A consistência foi fraca e longe da semanal que sempre procurei ter. Não vou a lado nenhum, mas é justo dizer que vou abrandar. Com a devida autorização do Cherba, manter-me-ei ativo, mas sem obrigatoriedade (minha) semanal. Esta desobrigação ajuda-me. Como disse, voltarei na próxima época em força e sem regularidade para um novo ciclo nesta nossa Tasca do Cherba. O Sporting CP somos nós!

Ainda falta ganhar um campeonato.

Saudações leoninas.

 

*quando vê uma aberta no meio campo adversário, o Adrien S. puxa a bola bem alto e prega-lhe uma sapatada para ponto directo.