Quando Paulo Bento foi despedido, entrou Fernando Santos. Não posso dizer que fiquei triste porque o Riscómeio colocou a fasquia num patamar tão medíocre que a vinda de qualquer outro seria sempre um upgrade. Por outro lado, se alguém esperava uma renovação da parte do Nando é porque não o conhece. Quando lhe perguntaram sobre o tema, apressou-se a dizer que as convocatórias não seriam feitas pelos bilhetes de identidade. Nessa altura, pensei: “Pronto! Estás apresentado!” E, justiça seja feita, ele não me desapontou. Nando Santo é exactamente aquilo que aparenta ser e as suas equipas são o fiel retrato da sua cara. Sisuda, sem chama, e com tiques nervosos.

O apuramento para o Euro é uma realidade que só deixará de acontecer se a selecção for absurdamente incompetente e ficar em terceiro lugar. Reforço o “absurdamente” porque é mesmo assim. E mesmo dentro desse absurdo improvável, as hipóteses não se esgotam aí porque ainda há um play-off disputado entre os melhores terceiros. Eu, na minha ingenuidade, pensaria: “Mais fácil que isto, é impossível! Se há altura ideal para fazer uma renovação, é esta!”. Já o Nando pensou: “Calminha aí que o importante é ficar em primeiro do grupo! A miudagem que espere sentadinha, que isto é a sério!” E não há nada de errado com este pensamento, toda a gente quer ganhar. Mas também ninguem é capaz de garantir que com a integração de malta mais nova, os resultados e as exibições fossem piores. A meu ver, está-se a perder uma oportunidade de ouro para regenerar uma selecção que precisa, urgentemente, de sangue novo. Por este andar, das três uma: ou os cotas rebentam e obrigam à convocação dos tais jovens “à pressão”, ou (Deus me livre!) vão ser esses mesmos cotas que nos vão representar nas grandes competições que se avizinham. Brasil Alert! Ou, para não ser injusto com o Nando, se calhar ele quer garantir uma distância pontual segura para começar a lançar os tais jovens. E como não sei o que vai na cabeça do seleccionador, vou especular…

Fernando SantosQuem está a ser hipócrita é mesmo o Nando. Porque diz que não olha para o BI mas é precisamente isso que ele está a fazer. Porque se ele usa esse argumento para justificar “experiência” qualquer um pode usar o mesmo argumento para justificar “irreverência”, “vontade” ou “ilusão”. E “qualidade”, já agora…Ou seja, até ver, esta é a Fase 2 do processo de rebentamento de jovens iniciado pelo Riscómeio. Para mim, não faz sentido absolutamente nenhum termos uma das melhores gerações de talentos de sempre e nenhum deles ainda servir para estar no banco da selecção A. Vejamos: Paulo Oliveira, Ilori, Rafael Guerreiro, Esgaio, William, João Mário, André Gomes, Bernardo Silva, Rony Lopes, Rafa, Iuri Medeiros, João Carlos, Chaby, Bruma, Mané, Gonçalo Paciência, André Silva…enfim, podia estar aqui um dia inteiro a citar nomes. Obviamente que nem todos eles estão preparados para a selecção principal, mas também é verdade que alguns já deviam lá estar porque, em talento, ultrapassam muitos dos que lá estão. A pergunta que eu faço é simples: Tendo em conta que se deve tomar como exemplo aquilo que os melhores fazem, o que faria, por exemplo, Joachim Low com esta geração? Ou Van Gaal? A resposta parece-me óbvia, basta ver com que idades se estrearam os jogadores que hoje se assumem como opções da selecção holandesa ou alemã. É tudo uma questão de crença. Ou se acredita ou não. Nestas coisas não se pode ficar a meio caminho, porque o meio caminho é aquela zona onde um gajo com potencial para ser um dos melhores do Mundo na sua posição (Willliam) se vê ultrapassado por um jogador com 36 anos (Tiago). Não está em causa a qualidade do Tiago, está em causa uma escolha. Porque o Joachim Low podia perfeitamente pedir de joelhos a um Lahm, que é um verdadeiro craque, para rever a sua decisão de se retirar da selecção alemã mas não o faz porque sabe que é altura de virar a página. E o próprio Lahm, que até nem estava em idade de se retirar da sua selecção, sentiu que para preparar outro lateral de topo é necessário haver espaço para essa preparação. E por isso retirou-se. Algo que Bosingwa, Bruno Alves, Hugo Almeida ou Tiago já poderiam ter feito mas que, graças ao seleccionador, renasceram das cinzas qual fénix. Obviamente que o Lahm também se retirou porque foi campeão mundial e quis sair em beleza, mas espero que o critério não seja esse senão estamos bem arranjados…

O Nando só enganou quem quis ser enganado. Porque quem o conhece percebe que sempre foi avesso a grandes revoluções ou renovações. E ainda hoje me rio quando ele se queixou, na altura em que esteve no Sporting, de ter perdido o Cristiano Ronaldo para o Manchester United ainda na pré-época. A sério, Nando? Para quê? Para apostares num Luís Filipe e deixares o craque a “aprender” no banco? E nem me refiro apenas à questão dos jovens. Falo também da qualidade do seu futebol. Não é coincidência que uma das maiores referências do Riscómeio seja ….exacto, o Nando Santo. O aprendiz deu lugar ao mestre. E como o mestre, como bom lampião que se preze, tem uma boa imprensa, os tiros de caçadeira com que chumbaram o Riscómeio são hoje esguichos de água de uma pequena bisnaga apontada ao Santo. Hoje, a renovação da selecção é um assunto tabu em prol das vitórias que, justiça seja feita, o Nando está a alcançar. Por outro lado, a qualidade de jogo que se exige aos melhores de Portugal deu lugar a um estranho pragmatismo resultadista de uma equipa que conta com talentos como CR7, Nani ou Quaresma. E toda a gente acena a cabeça validando isto. Até apanharmos alguma equipa que jogue alguma coisa. Digo eu.

Portanto, arriscando uma previsão, vejo uma selecção ainda mais envelhecida e exactamente com os mesmos problemas que o Riscómeio teve no Brasil. Porque se ele precisa de um Bosingwa, Eliseu, Tiago, Bruno Alves e Hugo Almeida em final de carreira para ultrapassar as poderosíssimas Albânias e Arménias, que critério é que se utilizará para os tirar do grupo quando for necessário? Nenhum, porque não há critério objectivo para estas escolhas a não ser a propalada “experiência”. E, salvo a excepção do Tiago que parece que melhora com a idade, não reconheço qualidade nos restantes para representar Portugal neste momento. O custo de ter um cepo (com experiência ou não) numa equipa não é só aquilo que ele (não) faz. É aquilo que outro melhor não pode fazer no seu lugar. E depois, no derradeiro fim, justifica-se a coisa com o médico ou com a falta de qualidade dos jogadores portugueses. Algo que, com esta geração devia dar cadeia.

Acabo de escrever isto e vem-me à memória o último jogo com Cabo Verde. E não consigo deixar de pensar no que vem aí e no aproveitamento que se vai fazer dessa derrota. Como é habitual, a narrativa está a ser construída à volta da falta de qualidade das segundas linhas de Portugal quando devia devia enfatizar a falta de qualidade da…convocatória efectuada! O problema sempre foi este! Foi com Paulo Bento e continua a ser com o Fernando Santos! A verdade é que os seleccionadores nacionais simplesmente não sabem quem são os melhores! Ou sabem e estão reféns de alguma coisa. E nem é assim tão difícil perceber, é só olhar para o escalão abaixo. Está lá tudo escarrapachadinho na sub-21. Mas, para “português ver” e para fazer a vontade de alguns clubes médios, lá tivemos de gramar com o Ukra, o Duplo André, o Éder, o Almeida ou o André Pinto, jogadores que nunca terão a qualidade suficiente para serem opções credíveis no presente ou no futuro. Parece-me a mim que o Nando está a querer provar alguma coisa. Talvez esteja a querer mostrar que toda a gente é seleccionável (cepos incluídos) e que nos clubes médios também existe qualidade. E realmente existe, só que é bem mais escassa do que a convocatória do Nando quis demonstrar. E, como bem sabemos, quem escolhe para agradar dificilmente sobrevive.

Para terminar, e para resolver este problema, proponho duas soluções. A primeira é meter o Nando a ver em modo repeat os jogos da sub-21 e os jogos que os jogadores deste escalão fazem nos seus actuais clubes. A segunda é contratar para os quadros da selecção algum ex-coordenador do Sporting na área da formação. Porque, na verdade, só estes é que são capazes de dizer ao Nando: “Não tenhas medo, pá! Confia na miudagem que eles não te vão desapontar!”. A prova disto é o país ter visto in-loco que as melhores exibições no último jogo foram do João Mário e Bernardo Silva, dois recentes sub-21. E por isso digo, com toda a convicção, que estes miúdos não serão o futuro. São o presente! Alguém que acredite neles, sff!

Acabo com um facto importante. A média de idades das grandes selecções europeias anda à volta dos 26 anos. A de Portugal anda à volta dos 31. Como é normal cá no burgo, nós é que estamos no sentido certo e o resto do Mundo está em contra-mão…

PS: No jogo com Cabo Verde, uma nulidade substituiu outra (Hugo Almeida por Éder). Seria assim tão pior ter apostado num Gonçalo Paciência e trocá-lo por um André Silva?

* todas as sextas, directamente de Angola, Sá abandona o seu lugar cativo à mesa da Tasca e toma conta da cozinha!