Os números desagradam, as exibições não contagiam, o filme faz recordar a pré-época de há um ano. Novamente privado do núcleo duro português – Patrício, William, Adrien, Gelson – Jorge Jesus teve, no entanto e ao contrário do que aconteceu na pré-época anterior, a vantagem de ter à sua disposição vários reforços contratados atempadamente. Faltou-lhe Acuña, que poderá ser pedra essencial no xadrez imaginado pelo técnico, mas há tempo para integrar um jogador que, acredito, virá acrescentar muita qualidade à equipa.

E por falar em tempo, o que se segue é o de definições. Quem fica, quem sai, quem joga e quem vai para o banco. Mónaco e Fiorentina, em Alvalade, nos dias 22 e 29, deverão dar indícios mais concretos sobre como será composto o plantel que, a julgar por esta semana na Suíça, me deixou as seguintes indicações.

Positivo
1. Os putos
«Lá vem o cabrão do Cherba outra vez». É verdade. E se não te cheira bem, assoa-te e põe-te ao fresco. Podence é uma máquina e será um atentado se não for titular. A velocidade e verticalidade, aliadas à irreverência e inteligências para partir tudo entre linhas, colocam-no como parceiro ideal de Bas Dost ou de Doumbia, isto acreditando nos sinais de que Jesus não estará a pensar combinar os dois avançados.
Depois, Iuri e Matheus, os mal amados, os peneirentos, os gajos que precisavam de ter uma pinta mais argentina para merecerem paciência. Iuri confirmou quem tem qualidades únicas e que será patético não ficar no plantel. E dizer que Matheus surpreendeu Jorge Jesus é quase tão estúpido como o facto de Jorge Jesus ter encostado Matheus depois do puto ter brilhado tanto quanto Gelson, sempre que chamado, na época em que os emails nos roubaram o título.
Tobias Figueiredo surpreendeu e acabou por ter mais minutos do que André Pinto.
Por último, Pedro Silva. Que enorme futuro pode ter mais este guarda-redes formado na casa do Leão.

2. Bruno Fernandes
O reforço que mais deu nas vistas. Foi caro, mas vale todos os milhões que se pagaram, principalmente se não tiver que jogar encostado a uma linha, como aconteceu ontem. Classe, inteligência táctica, atitude, técnica. Está lá tudo. Não sei se Adrien fica ou sai. Sei que podemos dormir descansados quando o 23 não puder jogar.

3. As bolas paradas
Com Bruno Fernandes, Iuri Medeiros e Mattheus Oliveira a baterem cantos e livres estamos muito mais perto de fazer golos de bola parada.

4. Os laterais
Coentrão chega ao final do estágio a dizer que já não precisa da máscara de oxigénio para respirar e isso é óptimo. Quanto melhor estiver fisicamente, mais perto estará de voltar a ser o lateral que já foi. Com Jonathan, dá-nos garantias à esquerda (mesmo que tenhamos que dar um calmante ao argentino antes de cada jogo).
À direita, Piccini tem a dura tarefa de ultrapassar a desconfiança dos adeptos. É um nome pouco sonante e ainda não se percebe se acabará a abrir um restaurante, mas deixou-me impressões positivas, pese algumas perdas de bola resultantes da vontade de ter a bola no pé. A grade questão que se coloca é: o lateral direito que ainda vamos contratar será uma truta ou uma segunda opção?

5. A variação táctica
Gostei muito da ideia de podermos jogar em 3-4-3 ou em 3-5-2. Com três centrais, no fundo. É um sistema que tem que ser muito bem trabalhado, mas que poderá fazer sentido quando defrontarmos equipas já demasiado formatadas para o habitual 4-4-2. E é um sistema que, também ele, pede o reforço da direita da defesa, pois fará mais sentido com um lateral ao estilo de Coentrão (se alguém conhecer um sósia do Cafu, avise).

6. Os adeptos
Sempre presentes, sempre apaixonados, sempre desejando aproveitar estes momentos para acalmar a distância de Alvalade. Só é pena não sabermos aproveitar esta saudade em termos de marketing.

 

Negativo
1. A incapacidade de reforçar a marca junto dos adeptos
Não iria começar por aqui, mas aproveito a embalagem do último ponto positivo. Não se percebe como é que a Juve Leo vai para a Suíça vender tshirts e cachecóis e o Sporting não leva um pão de forma carregado de merchandising. É… amador, para ser simpático. Já agora, o Jubas ficou a fazer o quê em Lisboa?

2. Os golos sofridos
São muitos, demasiados, mas creio que pelo menos metade resultam de erros individuais. A defesa é toda nova (sobra Coates) e até a posição 6 foi ocupada por um “corpo estranho” (Petrovic, Battaglia, Palhinha), já para não falar do peso nas pernas depois de várias tareias e do facto de termos jogado com…

3. Jug
É patético. Tão patético que quase devia existir um comunicado oficial a pedir desculpa por tê-lo contratado. Esqueçam-se dele na Suíça, por favor.

4. Alan Ruiz
A minha tolerância para o camisola 10 está ao nível do que ele fez no estágio: abaixo de zero. É doentio vê-lo a titular, é doentio assistir a uma total incapacidade para perceber onde deve posicionar-se, é enervante ouvir dizer que o rapaz ainda precisa de tempo. O Carlos Miguel era um enorme craque no Brasil. Alan Rui também tem tudo para sê-lo. Na Argentina.

5. A ausência de Francisco Geraldes e de Ryan Gauld
Enfim…

6. O pouco tempo dado à dupla Dost/Doumbia
E ficamos sem perceber se um é opção ao outro quando o que se pensava é que um iria jogar com o outro

7. As viagens de duas horas antes dos jogos
Jorge Jesus queixou-se e apontou à má organização. Mas ele não esteve envolvido no planeamento do estágio?