As portas do Pavilhão João Rocha abriram para receber o IV Congresso ‘The Future of Football’ (TFOF, a realizar ontem e hoje) e Bruno de Carvalho aproveitou o primeiro dia na perfeição.

Aquele que é já um dos mais mediáticos encontros para a discussão do futebol, abriu com o tema Vídeo-Árbitro: como surgiu e como vai crescer, tendo como painel de oradores Greg Barkey, director técnico da MLS, dos Estados Unidos, Florian Goette, responsável da arbitragem da Associação de Futebol da Alemanha, José Fontelas Gomes, presidente do Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e Lukas Brud, CEO do International Board, enquanto Keith Hackett, antigo árbitro inglês de 73 anos, foi o moderador escolhido.

Há quatro anos estive aqui a falar do futuro, da forma como poderíamos usar o vídeo para ajudar o processo de decisão dos árbitros. Aí, não pensei que a mudança fosse tão rápida no que toca às leis do jogo. À velocidade da luz, mais de 20 países passaram a ter o VAR. Tenho visto algumas mudanças globais e a entrada do VAR foi uma das maiores”, começou por dizer Keith Hackett, à medida que lançou a discussão.

Um dos primeiros países a introduzir as tecnologias no futebol foi os Estados Unidos, e talvez por isso o primeiro a expor a sua experiência foi Greg Barkey. “A nossa época começou há seis meses e começámos com o vídeo-árbitro. No início, tivemos boa imprensa. No entanto, foi importante educar os diferentes agentes: os adeptos, a imprensa, os clubes e os jogadores. Houve, por exemplo, uma pessoa responsável por clarificar as dúvidas que surgissem por parte dos envolvidos assim que os jogos terminavam e, ainda antes, efectuámos seis meses de testes ‘offline’, com treino da prática do VAR, torneios e jogos simulados”, explicou, adiantando que se perderam, em média, mais dois minutos por jogo. “O VAR funciona perfeitamente quando os árbitros são bons: nunca se reverteu uma boa decisão para uma má”, atirou, fazendo a ressalva: “Temos de entender que o VAR não vai eliminar todos os erros, vai apenas diminui-los”.

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foto César Santos (Jornal Sporting)

Aproveitando a discussão e o momento para colocar questões, Bruno de Carvalho pegou num dos clássicos de Sousa Cintra e actualizou-o, transformando-se numa mistura de Coates e Mathieu para desarmar o presidente da FPF e do Conselho de Arbitragem. “Está aqui muita gente a ouvir isto: gostaria de falar como presidente e depois como adepto. Primeiro quero dizer ao Keith [moderador] que é Sporting de Portugal e não de Lisboa. Gostaria de dizer ao José Fontelas Gomes que os cartões vermelhos são apenas apresentados nos jogos do Sporting, e, se os retirasse da estatística, a média seria muito inferior. Tenho dificuldade em perceber o que a FIFA faz e também porque temos aqui a MLS a dizer isso: eles ligam as TV’s… Eles podem e nós não? Quero esse sistema assim. Enquanto adeptos, queremos ver a mesma imagem do árbitro, para lhe ter mais respeito e compreender a decisão. Nós colocamos milhões no jogo“, começou por assinalar o dirigente máximo do Sporting, que recebeu resposta de Lukas Brud:

Não há qualquer regra que o proíba. Não há nenhum regulamento que diga que não podem fazê-lo. É mais uma filosofia, cultura… Mas mostrar imagens também tem riscos, porque se mostram a primeira vez, têm de mostrar sempre. No ano passado dissemos que podiam fazer como quisessem, apesar de também os termos alertado para alguns perigos“, explicou Brud, dando origem a nova intervenção de Bruno de Carvalho.

Eu preciso que isto seja muito claro: ou seja, está a dizer-me que, se a FPF quiser, pode mostrar imagens, aqui do meu amigo Fernando [Gomes]. É isso? Ele diz que não. Os adeptos estão fartos deste secretismo, disse isso há três anos, na FIFA. Vocês dizem que sim, o Fernando Gomes diz que não… Quem é que está a dizer a verdade aqui? Estão a dizer verdades diferentes e opostas e isso é o problema em geral. O que é que realmente podemos esperar? Estive um ano banido, mas aqui posso dizer o que quiser, como adepto. O Fernando diz que não, o José diz que não, vocês dizem que sim…“, acrescentou o presidente leonino, com Lukas Brud em nova resposta:

Em termos do VAR, damos a possibilidade ao mercado local para decidir se mostra ou não as imagens. Mas a visualização não pode ser feita no meio do jogo. O árbitro não pode tomar a decisão a olhar para o grande ecrã. Mas o que já acontece na MLS e o que podemos fazer é, com o jogo a prosseguir, mostrar imagens. Se mostrarem as imagens, têm de o fazer a tempo. Não há nenhuma lei, mas temos de ter cuidado“, concluiu o CEO do International Board.

A terminar, Bruno de Carvalho lançou a questão a José Fontelas Gomes, presidente do Conselho de Arbitragem da FPF: “Como responsável máximo dos árbitros, vai propor isto à FPF? Nós, adeptos e fãs, podemos ficar descansados? O responsável dos árbitros vai dar-lhes mais credibilidade e humanização? Queria saber se o José Fontelas Gomes vai fazer esta proposta à FPF“. O dirigente federativo respondeu: “Acho que há aqui questões de organização… Nem todos os estádios têm monitores para passar imagens. Vou falar com o meu Conselho de Arbitragem para analisar essas propostas e depois vamos ver se as vamos apresentar“.