Adán enterrou (outra vez), Coates salvou (outra vez), e o Sporting pouco jogou (outra vez), frente a um Midtjylland que fez aquilo que praticamente todas as equipas parecem conseguir fazer: anular o esgotado desenho táctico dos Leões. Fica tudo em aberto para a segunda mão, na Dinamarca, e fica a pergunta: será que todos estão a ver o que se passa, menos quem devia ver?

O título desta crónica é o título que tinha escolhido para a crónica do jogo frente ao fcp, em que perdemos 1-2, em Alvalade, dizendo adeus aos dois primeiros lugares do campeonato e colocando em modo raspadinha a possibilidade de chegar ao terceiro, o tal que dá acesso à pré da Champions.

E o título desta crónica é o título que tinha escolhido para a crónica do jogo frente ao fcp, porque estes dois jogos são indissociáveis, até porque as escolhas de Amorim frente aos dragões ficaram mais bem explicadas ontem. O mister geriu o plantel como achou que devia gerir, mas o problema de fundo mantém-se: até pode rodar as peças todas, se o desenho feito pelas mesmas no relvado se mantém, as dinâmicas são exactamente as mesmas e a forma de anulá-las também.

Ora, contra o fcp, o Sporting teve a capacidade de construir oportunidades claras. Trincão, Edwards, Chermiti, todos eles tiveram o golo nas botas, acabando por ser o miúdo a estar em destaque: um remate cortado por um defesa quando ia para a baliza, uma defesa por instinto de Diogo Costa, um golo anulado por fora de jogo, um golo em cima do apito final. Ontem, Chermitti ficou no banco, porque o psicólogo deve ter sugerido que Paulinho precisava jogar para reforçar vá lá saber-se o quê, o mesmo Paulinho que entrou porque sim frente aos azuis e brancos, no domingo, para fazer zero e tornar ainda mais confuso um sistema tático que se arrasta na sua teimosia.

Esgaio também voltou, Nuno Santos idem, sendo que parece que o Sporting só sabe meter a bola no canhoto à espera de um cruzamento a régua e esquadro. Se fosse há 20 anos, por certo que Jardel iria aproveitar um ou dois ou três, mas, agora, a referência na área raramente mostra os dentes, até porque teima em fugir das zonas de finalização dentro da dita, confirmando que é tudo menos um ponta de lança. Amorim esperou demasiados minutos para lançar Chermiti, até porque antes tem que substituir um ou dois centrais, coisa que na sua cabeça vai mudar completamente o filme do jogo. Isto, enquanto Emam Ashour era aposta para mexer com o jogo dos dinamarqueses e torná-los bem mais perigosos no último terço, depois de uma primeira parte onde o Sporting teve muita bola sem saber o que fazer com ela, e uma única grande oportunidade, desperdiçada por Pote.

Adán fez uma grande defesa, depois fez uma grande merda e colocou a bola nos pés de um adversário que, com classe, a meteu lá dentro. E a reacção do Sporting ao golo foi nula, tanto a nível táctico como emocional, e quando Amorim fala desse pormenor, das pernas pesarem 200 quilos e a bola parecer quadrada, devia pensar que também ele parece ter 200 quilos de areia no cérebro e uma visão quadrada do jogo. A leitura que vem fazendo, a partir do banco, chega a ser dolorosa, incapaz de alterar o que quer que seja para tornar a equipa menos previsível (se até os adeptos já sabem o que vai acontecer, imagine-se a facilidade dos treinadores adversários). Troca peça por peça, mantém os três centrais até à exaustão, recusa-se a apostar numa equipa com dois avançados. E quando fala em preparar o futuro, e vemos Pote amarrado ao meio campo com Mateus Fernandes ou Tanlongo no banco, e Essugo perdido vá lá saber-se onde, a darem a possibilidade da equipa se soltar em 3-5-2, por exemplo, mas nada acontece, o que soa é que o discurso de preparar o futuro faz tanto sentido quando a gestão de um Fatawu…

Na antevisão do jogo frente ao fcp, Amorim tinha dito, entre sorrisos, que havia dito aos jogadores que tinham que jogar como se o mundo fosse acabar e ganhar o jogo fosse o remédio para isso não acontecer. O mundo não vai acabar, mas o mundo que Amorim perspectivou, com este desenho táctico, começou a acabar há largos meses. O golo de Coates, a cair do pano, amenizou mais uma noite triste, mas em nada muda este diagnóstico. Resta saber se, enquanto vê tudo a desmoronar à sua volta, o treinador percebe que precisa fazer e mudar algo (homem, até o Guardiola que idolatras acabou de mudar tudo para ganhar ao Arsenal!), ou se coloca a música no máximo e canta, a plenos pulmões, “It’s the end of the world as we know it and I feel fiiiiiiiiiine!